É pavê?


Hoje acordei às seis da manhã e, lá ao fundo, ouvi um galo cantando. (Des)vantagens de se viver no interior, meu caro. Em todo caso, o fato é: na manhã do dia primeiro de outubro de dois mil e quinze eu ACORDEI. Mas... E o cara do Green Day?! Setembro não termina em paz caso alguém não acorde o Billie Joe Armstrong. Bom, pelo menos é o que indica meu feed de notícias do Facebook quase sempre que o décimo mês se inicia. É incrível como as pessoas adoram esta piadinha! Mais incrível ainda é como ela deu uma sumida nos últimos tempos.

Na verdade, sou suspeito para falar, pois sempre fui adepto de "piadas ruins é que são boas". Resumidamente, sou um imbecil. E digo isto com orgulho! Adoro trocadilhos, dizeres infames e aqueles vídeos que o povo compartilha de crianças tomando susto, que todo mundo diz "que judiação", mas no fundo eu estou passando mal de tanto rir.

Eu amo as crianças! Não é delas que eu rio, mas sim daquela música do Titanic que toca ao fundo quando o menino é espancado pelo brinquedo de um parque de diversões e sai com os braços estirados, pendurado no mecanismo de lona e espuma. Hão de convirem comigo que é, tipo, MUITO engraçado!

Para mim Natal não é Natal sem a piada do "é pavê ou pá cumê"? Desta forma, já não tenho um fim de ano digno desde que minha família decidiu substituir o pavê por bolos ou pudins. Nada contra, MAS E A PIADA, POXA?! Só porque ela viralizou não significa que deixou de ser boa. Os tempos vão passando e muitas das boas e velhas tradições (como a piada do pavê ou aquela sobre "Wake Me Up When September Ends") vão sendo trocadas por outras - engraçadas, mas não de igual valor. Tem uma explicação!

Antes que Luiza Marillac saísse da pior tomando seus "bons drink" neste verão maravilhoso da Europa, Marcos "tacasse le pau" em seu carrinho no morro da vó Silvelina e MC Melody dominasse as paradas de sucesso com "um dos falsete mais difícil" (ao som de "Oh, happy day, mam-tchissus-wash"), outro item viralizou em grande escala. E é ele o responsável pela troca das piadas boas/ruins de geração em geração. Os meios de comunicação.

Uma das primeiras correntes teóricas da comunicação foi a Escola de Chicago, os funcionalistas, nos Estados Unidos. Independentemente de sermos adeptos (ou não) de suas teorias, elas devem ser levadas em consideração. A "Teoria da Agulha Hipodérmica", por exemplo, defende que uma informação, quando bem trabalhada, pode exercer domínio, até mesmo emocional, sobre indivíduos que, por sua vez, seriam facilmente manipuláveis. A hipótese também pode ser chamada de "Bala Mágica", como se a população ingerisse um pequeno doce e se tornasse um alvo fácil no qual implantar interesses políticos e econômicos de figuras "superiores".

Nascia, então, a Era da Cultura de Massa. Mais tarde também carinhosamente apelidada de "Geração Coca Cola". Não é difícil imaginar que esta (enorme) parcela de sujeitos passou a pensar, comprar e votar em verdades únicas e absolutas às quais foi apresentada pela mídia. E a tomar conclusões precipitadas, é claro. Quem acredita que os homens vão aumentar, desenfreadamente, o consumo hídrico agora que a NASA descobriu evidências de água corrente em Marte põe o dedo aqui, que já vai fechar. Ou que já estão pensando em estratégias para mudar de planeta!

Mas em Marte não tem vida. Pelo menos não comprovada, ainda. Consequentemente, não tem meios de comunicação em massa. Não tem vídeos de Felipe Smith em Guarapari (Búzios é sua arte). E não tem uma geração viciada na piada do "é pavê ou pá cumê". Ou seja, a vida lá, por enquanto, não vale a pena (e deve ser bem sem graça).

PS: Por favor, alguém acorde o vocalista do Green Day antes que seja tarde demais. Obrigado.



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