A Pena de Talião




Era uma vez... Eram duas vezes. Eram três. Foram muitas vezes em que a história se repetia ao longo dos tempos em tentativas desesperadas dos céus de que os seres humanos acordassem e vissem que a vida não é brinquedo. Talvez fosse justamente este o problema: esperava-se que os seres humanos fossem... Humanos! Inteligentes, racionais e com qualidades empáticas. Mas não passavam de animais dotados de egos inflamados e, muitas vezes, sem reconhecimento de seus próprios atos e das consequências vinculadas aos mesmos.

Pois bem, se havia que orar por eles, por que o deus que buscavam não era o mesmo que os ouvia e, pobres, eram incapazes de enxergar quantas lágrimas foram derramadas por aquela ilustríssima figura na cruz quando inúmeras barbáries foram cometidas evocando, em falso, seu nome.

Na mídia dos últimos dias são incontáveis os casos de desrespeito e repúdio a pobres, negros, estrangeiros, moradores de rua, adictos, homossexuais, artistas. Mas o único aspecto que os une a todos é o mesmo que custa a qualquer fanático religioso aceitar: são todos pessoas! Por igual.

A Pena de Talião vem se esbaldando por entre gerações que ainda crêem ser real a máxima "olho por olho, dente por dente", e perseguem a justiça pelas próprias mãos. Ora, já não é claro que é a Deus quem cabe os julgamentos e que Ele é o próprio amor, o único que é real? Onde está a tolerância? Onde está a verdadeira penitência?

Assumindo que não sou um leitor fiel da Bíblia, ouso arriscar uma passagem que o destino se encarregou de trazer há alguns dias até mim: "Portanto, se estás fazendo a tua oferta diante do altar, e te lembrar aí que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali a tua oferta diante do altar, e vai te reconciliar primeiro com teu irmão, e depois virás fazer a tua oferta" (Mateus, v.: 23 e 24).

Está evidente que o sacrifício mais agradável a Deus é o perdão, os ressentimentos, a reconciliação. Não, não sou um cristão exemplar. Sou cheio de falhas, inclusive. Mas, em minha insignificância, indico a quem almeja a vida eterna no paraíso, que busque mais a humildade e deixe de ser, como a parábola conta, uma figueira seca, infecunda. Isto é, pessoas vazias e inúteis do pior tipo: voluntariamente.

E a quem disso nada crê, vale a filosofia e a oportunidade de fazer o bem sem esperar nada em troca. Quem sabe assim a história deixa de apenas se repetir alternando as personagens e, por uma vez ao menos, o amor ao próximo se torna o forte da humanidade.



Um comentário:

  1. Não me canso de ler seus textos. Parabéns pelo olhar crítico de um fato que nem mesmo a sociedade se atenta. Poucas pessoas observam de fora uma situação. O tempo passou, as coisas evoluíram e os seres humanos se perderam no tempo.

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