Dois estranhos num banco de cimento


Hoje de manhã, por volta de umas sete e meia, saí de casa rumo ao início da árdua tarefa de mais uma porção de obrigações. A rotina pode ser dura numa quinta-feira, logo cedo. Olhos semiabertos, pernas bambas. É, eu estava com sono e em cima da hora, só para variar.

Foi quando alcancei o costumeiro ponto de ônibus. Lotado, é claro. Por lá tem um banco, desses de cimento, com espaços onde cabem quatro pessoas sentadas. Os dois primeiros estavam levemente molhados, tinha garoado durante a noite. Nos dois últimos, um homem e outro vago. Era minha deixa para descansar os pés cansados, depois dos passos largos dados para não perder a condução.



Pois bem, não pensei duas vezes e me aconcheguei no assento. Tal foi minha surpresa quando, assim que repouso a poupança, o rapaz ao meu lado se levanta e troca de lugar. Menos aperto, é claro, ponto para mim. Mas ele preferiu molhar as calças num assento úmido do que dividir aqueles centímetros quadrados comigo.

Não, caro leitor, não sofro de nenhum tipo de carência. E, se sofresse, guardaria para minha terapeuta. Ou será que sofro? Ou será que devo mesmo guardar os detalhes para a psicologia? Não. A gente precisa falar sobre... Afeto.


"Afeto", do latim "affectus", que, por sua vez, vem do verbo "afficere". O significado: tocar, comover o espírito e, por consequência, unir, fixar. Também pode ter o sentido de "adoecer", mas quem é que não adoece um pouco quando se permite sentir o mundo de outra pessoa? De certo, você já passou pela dor de uma decepção, de um coração partido. São formas de adoecer, certo?! Mas não só isso. A "paixão" também é uma palavra que vem do latim, derivada do verbo "patī", que significa nada mais que... "Sofrer".

É, meu amigo, quem ama, sofre. É de lei. É regra desde os tempos de Platão, e não serão novas tecnologias ou letras de canções populares que curarão este mal. Mas este não é o ponto, e, sim: qual é o problema em doer um pouco, se, no fim, vale a pena? Pela conquista ou pela lição. "É preciso que eu suporte duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas", já diria Antoine de Saint-Exupéry (Padre Fábio de Melo que me perdoe).


E isso nos leva de volta ao meu ponto de ônibus na manhã de hoje. Não, não era só um acento vago no meio de duas pessoas. Trata-se do abismo que existia entre nós dois ali, embaixo daquela cobertura de concreto.

Outro dia, numa conversa, uma amiga questionou um rapaz que dava em cima dela e as investidas não estavam de agrado. "O que foi que eu fiz para que ele pensasse que estava interessada? Só estava sendo simpática". É. As pessoas de hoje estão tão acostumadas a não receber nenhuma atenção especial, que qualquer afeto é afeto, entende? E a gente se apega.

Isso, num mundo que se move a 1,4 terabit por segundo, pode causar danos avassaladores. Pode custar vidas. Ou é realmente tão espantoso que, "do nada" apareça uma tal baleia azul que leva embora tantas crianças e adolescentes? Ela já estava ali, nadando entre você e seus filhos, o tempo todo, mesmo antes do "jogo". Foi a falta de afeto que fez com que ela, numa abocanhada, levasse todos os sonhos, vontades e projeções de uma vida futura dos pequenos para o fundo do mar.


Gente que prefere naufragar do que seguir remando, porque não se sente amada. Gente que não enxerga apenas um assento vago entre dois estranhos numa parada de ônibus. Mas, sim, uma grande lacuna, do tamanho de uma baleia, entre dois corações mais gelados do que o cimento do banco daquela construção.



Imagina se pega na vista


Eu tenho algumas superstições. Sim, qual o problema? Por exemplo, acredito piamente, que será um dia de sorte quando vejo um passarinho azul. Não, a palavra "piamente" não foi usada como um trocadilho pelo fato de o passarinho piar. Pena, teria sido uma piada ótima, mas só pensei nela agora. Bom, voltando aos azulzinhos, não valem os periquitos, ok? Só os passarinhos azuis mesmo, daqueles que não se vê todo dia.

Isso me lembra a minha avó, que já se foi há uns anos. Não foi ela quem me ensinou a teoria do passarinho azul, mas tinha uma porção de histórias, achismos e superstições que eu achava graça (jeito carinhoso de dizer que eu tinha mais medo dessas coisas do que de achar um Michael Jackson embaixo da minha cama).


Exemplos: ai de mim se quando chovia tinha algum cachorro por perto! "Cachorro atrai raio". Passei uma infância inteira sem olhar pro espelho depois do almoço. "Entorta a boca". *Higiene bucal mandou um abraço*. Voltando aos dias chuvosos, tinha mais! Deu relâmpago? Fecha a boca, rápido. Tá, essa eu também não sei por que. Mas se a vó falou pra fechar, fecha logo, seu burro! Vai que você morre.

Tudo pode parecer estranho agora, mas eram os anos 90, minha gente. Outra era, quando tudo era permitido. No engatinhar da democracia brasileira, o povo botou na cabeça que aquilo ali era liberdade total! O que esperar de um mundo onde existia a Banheira do Gugu com gente pelada em TV aberta em pleno domingo na hora do almoço? EU SEI! Podíamos esperar o desespero da concorrência, é claro, mandando ver no Sushi Erótico! Bons tempos. Hoje temos que nos virar com nudes da Suzana Vieira.


Enfim, é claro que eu tô falando dos anos 90 porque foi quando minha avó me ensinou tudo isso. Ela era nova, mas nem tanto. Aprendeu quando ainda era criança, lá pelos anos... Não vou falar, em respeito ao RG da minha vózinha. ;) E o que ela me ensinou de mais legal foi: "imagina se pega na vista". Sim, leia-se "no olho", só que minha avó tinha um linguajar muito mais legal do que o seu.

Olha, eu não sei qual que era a onda dos anos 90, mas parece que a coisas eram todas atraídas por um campo eletromagnético, que as levava direto pro meu olho. Ou do meu irmão. Ou dos meus primos. De mais ninguém, juro. Ou, pelo menos, minha avó só se preocupava com as vistas da gente. Não a culpo, somos uma família de lindos olhos, realmente. Tá jogando bola e bateu com ela na parede? "Cuidado! Imagina se pega na vista?". Tá pintando um desenho e, de repente, o estojo com todos os lápis cai no chão? "Cuidadooo! Imagina se pega na vista?". Tá celebrando o Ano Novo e estouram uma champanhe? "Cuidadooooo! Imagina se pega na vista?". Tá brincando com um estilingue, que sua avó mesma fez, e seu primo mira na parede ao seu lado para te dar um susto, mas, por acidente, acerta um graveto razoavelmente grande na sua pálpebra esquerda? "MARILÚCIA DO CÉU, EU NAO AVISEI???!" É, Marilúcia é minha mãe. E, sim, essa história do estilingue é verdadeira. Ainda tenho a cicatriz para não me deixar mentir.

- Meus ossos. - Eu navisei?

De lá pra cá já se passaram mais de 20 anos. Cinco desde a última vez que vi minha avó. Mas ainda dá pra escutar, dentro da minha mente, a voz dela me mandando ter cuidado com a vista. Quem sabe, não fosse por ela, eu hoje fosse cego? Deus me livre! Essa sorte toda talvez eu deva, também, a muito passarinho azul que vi na vida. O fato é: nada comprova que cachorro atrai raio, que olhar no espelho depois do almoço entorta a boca ou que comer manga e beber leite acaba em morte (quando muito, numa desinteria). Mas é tudo isso que mantém nossos avós vivos, mesmo depois que já foram embora. E se, apesar disso, você não os consegue ver, cuidado! Deve ser porque alguma coisa pegou na sua vista.



Quase 30


Desde que descobri a filosofia "Lulu-Santiana", a aceitei para vida. A frase "o que eu ganho e o que eu perco ninguém precisa saber" é quase uma lei para mim. Não gosto de postar na internet, por exemplo, minhas vitórias e, muito menos, derrotas, é claro. Não tem nada a ver com uma tentativa frustrada de manter a imagem de super-herói que muita gente busca sustentar por trás de um monitor. É que tem momentos que precisam ser só nossos, sabe? E é sobre isso que vou falar aqui.

Peguei hoje minha Carteira Nacional de Habilitação. Isso mesmo, aos 45 do segundo tempo dos meus 27 anos. Não foi uma de minhas prioridades em 2007, com 18. De lá pra cá sempre me faltou dinheiro e sobrou tempo, ou vice versa. Mas quando você beira os 30, talvez já seja o momento de engatar a segunda e dar uma arrancada na vida.

Logo eu, que sempre tentei respeitar os limites de velocidade, tive a sorte (?) de pegar todos os semáforos no amarelo pelo caminho. Sabe o que fiz? Parei. Deu medo de ficar vermelho e faltar tempo para terminar a travessia. Agora não sei se teria conseguido passar por todos aqueles cruzamentos. Eles já não estão mais visíveis pelo retrovisor. Não dá para tentar recalcular mentalmente quanto precisaria acelerar. Perdi tempo. Com medo. E não se vai muito longe se o câmbio estiver sempre na primeira.

Me deu um estalo. Já estou beirando os 30! Poxa, ontem mesmo eu ainda era um baixinho da Xuxa. Ontem mesmo estava abrindo a mochila e a enchendo de sonhos. Quantos deles se realizaram ao longo dessas quase três décadas? Quase nenhum. Será essa a tal crise dos 20 e poucos que tanta gente fala? Se for, Jesus, como é ruim. E olha ele aí de novo: o sinal amarelo. O que eu faço? O que eu faço? Freio ou acelero? Não sei! Eu não sei!!!

Afundei com força o pedal da direita. Saí em disparada, gritando. Leva um tempo até você pegar o jeito. Aos quase 30 voltei para a sala de aula, me matriculei na auto escola, voltei a estagiar, ganhando mal. Sobra trabalho, falta sono. Procurei alternativas para consertar todos aqueles sonhos que eu mesmo espatifei sempre que algo não saiu como esperava. Foram tantas vezes!

Busquei me renovar. E isso é bom? Não. Que mudança é boa? Bons são os resultados. É o dinheiro caindo na conta. É a sensação de que as pessoas estão ao seu redor porque você quer, não porque precisa delas para sobreviver. Aos quase 30 cheguei à conclusão de que não há vitória sem luta. A minha é contra os semáforos amarelos. Ou ando, ou freio. Então é bom apertar o cinto, eu vou acelerar.



Por favor, dê a descarga




Você já foi ao banheiro público da faculdade ou da empresa onde trabalha e viu uma placa com os dizeres "depois de usar, por favor, dê a descarga"? Que estranho um pedido desses. Será mesmo, assim, tão necessário ter que PEDIR para alguém dar a descarga? "Mas o que é isso, amigo? E não posso ficar ali, admirando a obra prima que eu mesmo produzi?" Claro que pode. Você fez, é sua. Admire o quanto quiser, mas, por favor, quando sair, DÊ A DESCARGA.

O problema é que essas, que deveriam ser regras de educação elementar que a gente pratica naturalmente, não vêm sendo levadas em consideração em nenhuma situação. Nem mesmo fora das latrinas. É por isso que tem gente que, quando tem dor de cabeça, deveria tomar Lacto Purga. Ora, cada um sabe o cérebro que tem, não é verdade? Se você precisa abrir a boca para excretar, por favor, dê a descarga. Ou, pelo menos, procure um penico melhor do que os ouvidos de quem não é obrigado a engolir seus conceitos ou pré-conceitos.


R.I.P. Professorzinho lindo, meu amor.


12 de junho de 2016. Omar Mateen, cidadão norte-americano de origem afegã, que trabalhava como segurança, adentrou a uma casa noturna voltada para o público gay, em Orlando, nos Estados Unidos, e abriu fogo contra dezenas de pessoas. Resultado: 50 mortos e 53 feridos. Ou seja, o pior ataque a tiros da história do país. Há suspeitas de que o criminoso foi influenciado por lealdade ao grupo extremista Estado Islâmico. Com isso, poderíamos classificar o episódio como o mais cruel massacre terrorista em solo norte-americano desde 11 de Setembro de 2001.

Eis alguns comentários que li a respeito do caso: "Agora poderão 'queimar rosca' à vontade no inferno", "50 a mais no inferno... Deus fez Homem e Mulher" (digitaram com H e M maiúsculos mesmo) ou "Por isso Deus os entregou à impureza sexual". Hipocrisias religiosas à parte, me diz aí: quando foi que Deus, Alá, Buda, Krishna ou qualquer outra entidade falou: "Vamo lá, cambada, desce pipoco em tudo os gay"? Me mostra a parte da Bíblia, do Alcorão ou de qualquer outro papiro datado de zibilhões de anos, em que a "força superior" diz que é legal tirar a vida de 50 seres humanos só por esporte. E, mesmo se existirem, cadê os argumentos para essas teorias?

Ah, não tem? Então, por favor, dê a descarga.




25 de maio de 2016. Uma adolescente de 16 anos foi a uma festa com seu, suposto, namorado. Ela bebeu e, na manhã seguinte, acordou em outro local, seminua. Foi violentada por, pelo menos, 30 homens armados, que não se contentaram com a covardia em si, mas ainda filmaram tudo e divulgaram na internet. A garota, que admitiu fazer uso de entorpecentes, disse não ter usado nada naquela ocasião. Nas imagens ela, de fato, aparece desacordada.

Comentários que li a respeito do caso: "Será que foi abuso ou consentimento?"; "Sempre a mulher estuprada apanha também, e ela está com a cara e o corpo sem nenhum arranhão" ou "Ninguém é estuprada em casa lavando louça". Sim, acreditem, esse último é, realmente, verdadeiro. Te pergunto: aonde é que está escrito que uma garota, seja ela quem for, é obrigada a fazer sexo com 30 marmanjos só porque estava numa festa em que foi dopada? Qual é a lei que determina que os seres humano femininos servem apenas para o belo prazer e reprodução dos masculinos? E, na pior das hipóteses, quem foi que disse que, caso ela assim quisesse, não poderia se deitar com quantos desejasse?

Esses fundamentos bizarros só existem na sua mente e nas de seus amiguinhos mais íntimos? Poxa, então, por favor, dê a descarga.




Agora, se mesmo depois de refletir sobre esses casos você continua com ideias retrógradas, machistas e/ou extremistas... Se nada vai te fazer mudar os conceitos e tirar da cabeça que votar no "mito", com expectativa de intervenção militar, não é a melhor saída nas próximas eleições... Que é melhor procurar estudar e conhecer (pelo menos o mínimo aceitável) a história de seu país e planeta, antes de comprar interpretações individuais vendidas por um padre ou pastor, que leu metáforas num livro de mais de 2 mil anos... Por favor, enfie sua cabeça na privada e dê a descarga.



A arte de ser trouxa




Foi aí que eu me peguei pisando em ovos na hora de falar bem de alguém. Quando foi mesmo que isso ficou tão difícil? Para fazer o contrário, o processo é bem mais descomplicado. Você abre a boca, tira aquela trava que o superego teima em colocar debaixo de sua língua, e pronto! Lá vem uma enxurrada de frases que até mesmo as tópicas da Psicanálise se embananariam para explicar. Até porque eu não sou Freud nem a mãe de ninguém para dar colo depois que algum bonitão ouviu umas verdades. Mas quando as palavras ditas são boas, é bastante ocorrente que se limitem só aos pensamentos daquele que seria o orador.




Acontece que falar coisas legais sobre outra pessoa se tornou uma espécie de oitavo pecado capital. "Aonde já se viu? E eu é que vou deixar o fulano feliz?" Caros, não é porque "eu" (metafórico, é claro) vivo infeliz que os outros também precisam passar por isso.
Foi pensando assim que eu me tornei um cara legal. Ou quase isso. Parei de me esforçar para não falar bem dos outros e deixei que os elogios viessem aos lábios toda vez que julguei que alguém precisava ouví-los. Botei na cabeça que "o mundo já tem críticos demais".

Em outras palavras, foi pensando assim que eu me tornei um trouxa.




Ah, essa arte eu domino! Nas prateleiras da minha casa sempre haverá espaços reservados para o papel de cartas, o papel toalha, o papel higiênico e, lógico, o papel de trouxa. Aprendi a me virar tão bem com este último, que até origami já estou fazendo. É que sou do tipo de cara que pede desculpas até para um manequim, quando esbarro num deles no shopping. Também já fiz o mesmo quando esbarrei em pessoas. A diferença foi que o manequim me respondeu. Mentalmente, é óbvio. Sou trouxa, mas ainda não preciso tomar Esquizofril, fique tranquilo.
Em todo caso, acho que o manequim seria mais gentil do que o homem se pudesse falar. Mesmo porque, se fosse um daqueles que ficam nas vitrines de uma grande e famosa rede de lojas de roupas, onde todos são laranjas ou azuis, ele não teria escolha. Sem preconceitos, mas verdade seja dita: gente feia precisa ser legal. Precisa! É uma questão de sobrevivência, senão você fica sem atributo e o mundo, meu amigo... É selvagem! E te engole. Se isso é válido para humanos, também é para manequins que, apesar produzidos com plástico, seriam mais tranquilos na hora receber um elogio. Não pensariam que isso é puxa-saquismo ou que existe algum tipo de segunda intenção velada pelas entrelinhas.




Mas nada muda o fato de que sou trouxa. E não estou falando de uma trouxinha pequenininha, tal qual aquela que o Chaves carrega num pau de vassoura quando vai embora da vila, não. A minha tem proporções faraônicas! Acho que se Zeus fosse embora do Monte Olímpio, aí sim teríamos uma trouxa equivalente.



Recentemente fui a uma espécie encontro religioso. Fui repor as energias, meditar e refletir sobre os caminhos que minha vida tem tomado. Cheguei lá e o assunto em debate era "família". O cara que presidia a reunião falava sobre como os laços espirituais são mais importantes do que os de sangue. E eu comecei a filosofar internamente sobre uma amizade que se afastou. Foram 10 anos e aí, do nada, a pessoa que eu chamava de irmã não estava mais lá. Assim, do nada mesmo! Sem mais, nem menos quem me chamava de "alma gêmea" tinha virado fumaça. Por alguns momentos cheguei a me sentir mal. "O que é que eu posso ter feito de errado?" Fiquei com isso na cabeça por alguns dias, me martirizando. E, por fim, resolvi procurá-la, mesmo sabendo que eu não tinha culpa no cartório. 
Tamanha foi minha surpresa quando, ao acessar sua página no Facebook, verifiquei que tinha sido excluído. Eu! Aquele que esteve do lado dessa pessoa nos momentos mais difíceis. Sabe o que foi isso? Foi a vida! Me dando os parabéns. "Parabéns! Nos testes de elenco para o papel de trouxa, você será nosso protagonista!"



Num primeiro momento quis escrever verdades, que atuariam como verdadeiras bofetadas na cara. Mas aí lembrei de minha filosofia... "É, o mundo realmente já tem críticos demais". Mas eu não poderia deixar barato. Enviei, então, uma mensagem privada. Foram poucas palavras, desejando apenas o melhor e que cada um siga seu rumo. Afinal de contas, isso já era mais do que eu precisava ter feito. Vale lembrar que a pessoa em questão me deletou de uma rede social! Poxa vida, essa é a pior vingança que alguém pode ter no século XXI! Tão eficaz quanto mascar chiclete enquanto resolve uma equação de álgebra.
E fica aqui a lição que aprendi com tudo isso: quando tiver coisas boas a dizer sobre algo ou alguém, simplesmente diga. Se possível, estabelecendo uma conexão de olhos nos olhos. Nada é mais valioso do que isso! Tem muito mais peso do que um recado no Whatsapp ou uma colagem de fotos no Instagram. E quando as coisas que você tiver a dizer forem ruins, diga cara a cara também. Mas com cuidado. Você pode estar perdendo uma excelente oportunidade para ser uma pessoa melhor ou, no mínimo, civilizada.
Ah! E em hipótese alguma resolva seus problemas excluindo alguém do Facebook. Além de estar apenas varrendo a sujeira para baixo do tapete, isso ainda vai fazer com que muita gente duvide de sua inteligência. ;)



Somos todos engrenagens


Quando dizem por aí que "o caminho para o inferno está cheio de boas intenções", é a mais pura verdade. Já me perdi nas contas da quantidade de pessoas que somente fazem o bem esperando por, mais dia, menos dia, poder jogar os favores na cara do favorecido. E a culpa desta situação chata e constrangedora é... Do status social.

Analisando esta cadeia hereditária, já venho querendo me livrar desta situação precária deste muito antes do Bomxibom das Meninas estourar no final da década de 90. A década virou. O século virou. Virou o milênio! E nada disso foi o bastante para cessar os falsos favores perante os quais, como diz a canção, "o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre".

Ironicamente o trabalho NÃO VEM enobrecendo o menor dos homens. Pelo contrário, o empobrece. E de espírito! De modo que as cidades estão cada vez mais cheias de espíritos de porco (sem ofensa aos suínos).


Trata-se de gente que se julga superior por ter encontrado trabalho num país que se encontra numa das piores crises financeiras da história. Ora, se até nos contos de fadas o nariz de Pinocchio crescia a cada mentira contada, mostrando, assim, toda a verdade, como esperar que sua faceta de bom moço não seja desfeita depois de certo tempo?

Se esperam ser parabenizados, então, lá vai: PARABÉNS!

E vocês, de fato, merecem tais congratulações. Está muito difícil, realmente, se estabelecer e se manter no mercado de trabalho dia após dia. São greves, lay offs, planos de demissão voluntária. E, ainda assim, vocês permanecem intactos no serviço ou, numa hipótese ainda melhor, o conquistaram mesmo em períodos difíceis para a economia brasileira! Mas, eis aqui uma novidade: vocês não são superiores a nenhuma das pessoas dignas que passam tardes a fio enviando currículos.

É verdadeira a afirmação de que "dinheiro não compra felicidade, mas ajuda a sofrer em Paris". E soa como um grande benefício! Desde que você não se importe em sofrer sozinho. Em Paris, no Sudão ou em Budapeste. Não importa, você estará sozinho! Porque é o que acontece com quem cospe para cima: o dejeto volta direto na testa.


Hipócrita é a comunidade que, apesar de repleta de opressores desenfreados, crê que os oprimidos estão se fazendo de vítimas. Como se "automenosprezo" fosse vantagem na vida de alguém! Neste caso, a belíssima palavra "comunidade", provinda do latim "communitas" (comum, geral, compartilhado por muitos), poderia se contorcer semi morta no túmulo. Já não existe nada a ser partilhado por todos por igual. Sendo assim, se lá em cima do piano tem um copo de veneno, o culpado, definitivamente, não é quem bebeu. Se existem posicionamentos autopiedosos, existe uma razão.

Portanto, não se sinta o máximo porque hoje você ofereceu uma carona no carro que comprou com seu próprio dinheiro. Não se esqueça de que ontem você também estava andando a pé. A única regra do jogo é que tudo o que vai, volta. E o mundo gira.


Fazer o bem com o intuito único de alimentar o ego não o torna benevolente, mas desprezível. Ao final do dia, todos somos engrenagens desta grande e gorda máquina chamada Capitalismo. E se eu não funciono bem, você também não.



Lei de Murphy


Eu, sinceramente, evito palavrões em meus textos, mas gostaria de começar esse aqui com um grande e redondo: VAI TOMAR UM SUCO, MURPHY!

Não, não estou falando de Eddie Murphy. Se bem que, por alguns dos filmes dele, não seria má ideia dedicar esse meu profundo desejo descrito no parágrafo acima a ele também. Me refiro ao Murphy, criador da maldita lei que assombra o universo e garante que "Se alguma coisa pode dar errado, dará".


Eu nem sabia se essa história era real, então fui pesquisar. Edward Murphy foi um capitão da Força Aérea Americana e, em 1949, estudava um projeto que testava os efeitos da desaceleração rápida em pilotos de aeronaves. Parecia uma ideia promissora até que, de última hora, tudo deu errado, bem no momento de um teste. Uma pane, devido à má instalação realizada por terceiros. Foi aí que nosso queridão foi chamado para arrumar as burradas dos técnicos, que haviam feito o trabalho todo errado.

Até aí, tudo bem. Murphy ainda era uma espécie de Chuck Norris da indústria aeroespacial. Mas, adivinhe qual foi a maldita frase proclamada pelo nosso galã?

Exatamente.

Foi nesse momento em que o herói se transformou em vilão, passando a ser conhecido como o maior pessimista que já viveu na Via Láctea. Ele abriu a boca, tal qual uma Caixa de Pandora, e soltou a maldição que assola todos os azarados do planeta até hoje. Como eu.

"Mas o que foi que te aconteceu de tão ruim, Tiago?" O Sol. ¬¬'

Sim, eu detesto o Sol, o verão, o calor. Eu odeio suar. Hoje estava um dia lindo, chuvoso, cinza. Meus olhos até brilharam quando abri a janela pela manhã e vi tudo tão nublado. Fiz tudo pacientemente antes de sair para trabalhar. Foram horas felizes. Mas no exato momento em que pisei na calçada e me preparei para uma caminhada de 20 minutos até a rodoviária, adivinhe o aconteceu? O encosto de Murphy.

No meio das nuvens um buraco se abriu, justamente sobre minha cabeça, e os raios de Sol me atingiram com tamanha crueldade, como se eu fosse um descendente do Conde Drácula que precisava ser eliminado do mundo às pressas. Voei o mais rápido que pude até a sombra da rodoviária. Entrei num ônibus e... O Sol desapareceu por entre as nuvens e foi dar uma volta pelo espaço sideral. Resultados: suor, calor e estresse. Ah, e esse texto também.

"Credo, Tiago! Tanto ódio no coração só por causa de um solzinho? Que mau humor". Dane-se. Problema meu. E se você gosta de calor e de suar, procure um psiquiatra. Você é masoquista. Sem falar que tenho outras razões para odiar Murphy. Só não estou com vontade de elencá-las aqui, neste momento. Não vou ficar expondo meus pontos fracos na internet! Vai que Murphy está lendo essa publicação e usa tudo contra mim?

No final das contas, existem outras leis muito mais boas-gentes e bacanas. A Lei de Newton, a Lei de Gaga ou a Lei de Condensado, por exemplo. E mesmo que Murphy tenha sido vítima de sua própria lei, já que se deu mal e teve que arrumar todo o trabalho que os outros fizeram errado, só me resta uma coisa a dizer: SE FERROU, AMIGÃO!


...


E para encerrar, essa imagem que fez o meu dia. Obrigado, internet.