Quase 30
Desde que descobri a filosofia "Lulu-Santiana", a aceitei para vida. A frase "o que eu ganho e o que eu perco ninguém precisa saber" é quase uma lei para mim. Não gosto de postar na internet, por exemplo, minhas vitórias e, muito menos, derrotas, é claro. Não tem nada a ver com uma tentativa frustrada de manter a imagem de super-herói que muita gente busca sustentar por trás de um monitor. É que tem momentos que precisam ser só nossos, sabe? E é sobre isso que vou falar aqui.
Peguei hoje minha Carteira Nacional de Habilitação. Isso mesmo, aos 45 do segundo tempo dos meus 27 anos. Não foi uma de minhas prioridades em 2007, com 18. De lá pra cá sempre me faltou dinheiro e sobrou tempo, ou vice versa. Mas quando você beira os 30, talvez já seja o momento de engatar a segunda e dar uma arrancada na vida.
Logo eu, que sempre tentei respeitar os limites de velocidade, tive a sorte (?) de pegar todos os semáforos no amarelo pelo caminho. Sabe o que fiz? Parei. Deu medo de ficar vermelho e faltar tempo para terminar a travessia. Agora não sei se teria conseguido passar por todos aqueles cruzamentos. Eles já não estão mais visíveis pelo retrovisor. Não dá para tentar recalcular mentalmente quanto precisaria acelerar. Perdi tempo. Com medo. E não se vai muito longe se o câmbio estiver sempre na primeira.
Me deu um estalo. Já estou beirando os 30! Poxa, ontem mesmo eu ainda era um baixinho da Xuxa. Ontem mesmo estava abrindo a mochila e a enchendo de sonhos. Quantos deles se realizaram ao longo dessas quase três décadas? Quase nenhum. Será essa a tal crise dos 20 e poucos que tanta gente fala? Se for, Jesus, como é ruim. E olha ele aí de novo: o sinal amarelo. O que eu faço? O que eu faço? Freio ou acelero? Não sei! Eu não sei!!!
Afundei com força o pedal da direita. Saí em disparada, gritando. Leva um tempo até você pegar o jeito. Aos quase 30 voltei para a sala de aula, me matriculei na auto escola, voltei a estagiar, ganhando mal. Sobra trabalho, falta sono. Procurei alternativas para consertar todos aqueles sonhos que eu mesmo espatifei sempre que algo não saiu como esperava. Foram tantas vezes!
Busquei me renovar. E isso é bom? Não. Que mudança é boa? Bons são os resultados. É o dinheiro caindo na conta. É a sensação de que as pessoas estão ao seu redor porque você quer, não porque precisa delas para sobreviver. Aos quase 30 cheguei à conclusão de que não há vitória sem luta. A minha é contra os semáforos amarelos. Ou ando, ou freio. Então é bom apertar o cinto, eu vou acelerar.