Eu sinto falta de coisas que nunca vivi
Eu sinto falta de coisas que nunca vivi. E já sabia como seria difícil escrever as linhas seguintes a está afirmação. Porque é uma ausência totalmente inexplicável, mas, ao mesmo tempo, física e verdadeira. Penso em épocas passadas, períodos em que eu ainda nem tinha nascido, e me vem a sensação de ter perdido um pedaço de mim naqueles dias que simplesmente... Não existiram.
Relembrar o passado também causa certo incômodo. A infância. A adolescência. Sim, eu estava lá. Mas, na verdade, o que me deixa ainda mais saudoso é pensar em como estavam as outras pessoas naquele mesmo período. O que estavam fazendo, como estavam se comportando. Gente que já se foi, e hoje não pode mais me contar como se sentiam. Gente que eu não vou mais ter a sorte de encontrar, do nada, numa esquina qualquer depois de terem saído do banco numa sexta feira a tarde.
E eu me pergunto: quando será que vão, finalmente, inventar uma máquina do tempo? Minha vontade não é de voltar e corrigir os erros. É só de viver tudo de novo. Sentir tudo de novo. O bom e o ruim. Tentar guardar melhor na memória os cheiros, os gostos, as sensações. E esquecer que a vida de hoje existe. Não por ela ser má, porque não é. Mas, por ter a certeza de que ela apenas parecerá boa, de fato, amanhã. Quando já tiver virado passado.